DIÁRIO DE PERNAMBUCO 15/01/2007
Teatro da alma // Cinema sensorial de Deby Brennand
Júlio Cavani // Diariomailto:Diariojuliocavani.pe@diariosassociados.com.br
"Completamente surreal" é como Deby Brennand Mendes considera seu novo curta, Teatro da alma, cujas filmagens terminaram sábado, no Engenho São Francisco, no Curado. Com Hermila Guedes como atriz principal, o filme retrata a angústia de uma mulher que está perdida dentro de seu próprio subconsciente.
"É um filme mais sensorial, mas existe uma coerência narrativa", detalha Deby para diferenciar seu trabalho cinematográfico de uma experiência de videoarte. Nas cenas internas, filmadas nos aposentos da casa-grande do engenho, a personagem é cercada de símbolos e objetos que remetem a suas lembranças e ilusões, com uma direção de arte alegórica assinada por Diogo Balbino. Algumas cenas envolvem efeitos especiais com projeções de vídeo que reforçam a atmosfera onírica.
Hermila é perseguida por um palhaço, que também assume a forma de homem, interpretado por Alexandre Peixoto. "Ele representa os medos dela", explica Deby. "Ela tenta fugir, mas nunca vai conseguir, pois está fugindo de si mesma." Segundo a diretora, a ação se passa em um ambiente intermediário entre a realidade e o sonho.O texto foi escrito com colaboração do cineasta Nelson Caldas, que vive no Rio de Janeiro, onde escreve roteiros para séries da Rede Globo. "O palhaço é uma coisa dúbia, que ao mesmo tempo diverte e assusta", considera o roteirista, que assume ter realmente sonhado com algumas cenas. Sua parceria com Deby ainda vai estar presente em uma ficção sobre a vida do compositor e cronista Antônio Maria.Para reforçar o tom alegórico, a teatralidade é marcante em todo o filme, desde o título. As cenas externas aproveitam a diversidade botânica das matas do engenho, captadas pela câmera a partir de critérios de composição plástica. "As plantas são usadas como cortinas de coxias de teatro", define William Cubits Capela (Jura), diretor de fotografia.A inspiração que deu origem ao roteiro de Teatro da alma foram filmes em super 8 que Deby encontrou em sua casa, filmados por seu pai no aniversário de uma criança, na década de 1970. As imagens feitas no mesmo engenho, mostravam palhaços no meio da paisagem. O artista plástico Francisco Brennand, avô da cineasta, também já viveu nesta casa, decorada por obras de suas várias fases, o que amplia a simbologia em torno do local.Paralelamente ao curta, a cineasta continua com as filmagens do longa-metragem Recordações nordestinas, documentário sobre o compositor João Silva (parceiro de Luiz Gonzaga), além do filme de Antônio Maria. Ela também dirigiu Letras verdes, sobre a poesia de sua avó, Deborah Brennand. Co-produzida pela Mariola Filmes, com recursos da Lei Rouanet, Teatro da alma é o primeiro projeto de sua própria produtora, a Lunática Filmes.
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