21.12.08

MINUS




Palau i Fabre foi um dos grandes amigos de Picasso e um dos melhores conhecedores da sua obra, que acompanhou de perto quando dos seus tempos de Paris,onde dirigiu o Instituto Espanhol.É de sua autoria um importante ensaio sobre a série de desenhos do Minotauro (figura mítica com a qual o pintor muito se identificou ) e que consta de um volume colectivo dedicado ao tema do Labirinto (Centre Culturel Portugais,Fondation Gulbenkian,Paris,1985).O Minotauro surge na obra de Picasso, escreve Palau i Fabre com uma intenção puramente estética "em aparencia", no ano de 1928.Dá-se então uma "feliz convergencia de Cubismo, Colagem, união do Clacissismo e do Surrealismo".Mas, nota o estudioso ,repara-se a-posteriori que este quadro, de que haverá uma série um pouco mais tardia,foi executado dez anos depois do casamento de Picasso com Olga e um ano após o seu encontro com Marie-Thérèse e que assim se reveste de um significado muito especial na sua vida, anunciando as interpretações que faz em 1933.O convite que lhe é dirigido por Albert Skira para fazer a capa do primeiro número da revista MINOTAURO "desencadeia o reaparecimento e a implantação desta figura mitológica na obra do artista".Os minotauros que se sucedem serão muito diferentes, ainda que portadores da forte energia sensual e sexual que o mito comporta, e também fazem parte da cultura taurina ( paixão de Picasso como de Hemingway ). São figuras impregnadas do que Palau define como " atitude geral do surrealismo e dos seus postulados subversivos" a que o artista tinha aderido. Nesta fase o minotauro surge belicoso, de punhal em riste, ameaçador.O labirinto de Picasso é estético, na intenção, e "plástico" como se disse.Contudo há nele uma inquietante solidão, de que o veremos posteriormente libertar-se (quando o próprio Picasso se liberta de Olga, e Marie-Thérèse tem uma menina sua).Numa série de gravuras feitas a partir de 17 de Maio de 1933, Minotauro humaniza-se, e ultrapassa a condição animal, quase selvática de algumas das anteriores. É certo que sempre rodeado de figuras femininas, que seduz e a ele se entregam.O artista "apropriou-se do mito" ,da personagem tal como a tinha vivido antes.Diz Palau: " Minotauro permite-lhe esvaziar-se,manifestar-se, e compete-nos a nós penetrar no seu labirinto".De que modo? Tentando, pela contemplação da beleza e da força criadora das gravuras, decifrar o que de algum modo será sempre uma linguagem cifrada, pois nunca por completo a obra de arte é explicável e as referencias aos pormenores biográficos se não forem ultrapassadas serão documento, mas não arte. Na sua arte o artista esconde-se, mais do que se revela.

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